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ANTROPOCENO

por Nicole Corrêa Roese

Nesta semana o calendário nos indica o início da primavera. Uma das estações cíclicas que dimensionam o nosso tempo. Tempo de flores e cheiros. Tempo de brotações. Tempo que lembra a vida emergindo após um período de hibernação. E onde o inverno é mais rígido, maior é a esperança e até convicção de que a natureza mostra sua força de vida. Sempre foi assim. Ou deveria ser assim.

Mas há uma nuvem cinzenta a cobrir nossas cabeças. Ou, quem sabe, dentro de nossas cabeças. No interior de nossas mentes.

Fenômenos climáticos extremos estão mais intensos e frequentes. Há pouco foram as enchentes. Agora o calor, baixa umidade do ar e as secas que favorecem os focos de incêndio. Mas o fogo não é um fenômeno da natureza. Não surge espontaneamente. Está sendo provocado. Nesta semana a ministra do meio ambiente, Marina Silva, utilizou a expressão “terrorismo climático” como interpretação do que estamos vivendo. Pessoas mal intencionadas agindo para acelerar o caos.

Por mais que ecoem vozes afirmando que mudanças sempre aconteceram independente de nossa ação, os fatos estão aí como uma grande interrogação. Ou, talvez, como uma resposta.

Leio e vejo com mais insistência a afirmação de que estamos vivendo o antropoceno. Um conceito relativamente recente, utilizado apenas nas últimas décadas. Uma referência a classificação das eras geológicas que significaram grandes mudanças que ocorreram em nosso planeta. Fala-se em eras e não anos porque são períodos onde as mudanças foram resultado de processos que levaram milênios para se efetivarem.

A ideia de um “antropoceno” surgiu para definir uma nova era marcada pelas mudanças causadas diretamente pela ação da humanidade. Um processo em fase de aceleração. Mudanças que se ensaiam não para os próximos milênios, mas para as próximas décadas. Não para as próximas gerações, mas para nós mesmos. Não para nossos filhos, mas para nossas famílias.  

Assusta-me imaginar que corremos o risco de decretar o fim das primaveras. O fim das estações que referenciam nosso tempo e nos oportunizam esperanças de novos cheiros e novos brotos. Não porque a ordem do universo ruma nesta direção, mas porque a nossa desordem impera.

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