Acompanhando notícias, agora no início da semana, ouvi um informe sobre a movimentação nas estradas que ligam o Litoral Norte à região metropolitana do estado. Destacava-se um intenso movimento em função da virada do mês. Alguns encerrando as férias e outros iniciando. E então parei para pensar as férias.
Lembro que meu pai, operário do setor moveleiro, nunca tirou férias. Meus tios, agricultores, nem mesmo falavam em férias. Aliás, férias era um conceito diretamente ligado às escolas, numa referência ao período de dezembro a fevereiro quando não havia aulas.
Historicamente a consolidação das férias como um direito do trabalhador brasileiro foi oficializada em 1943 com a CLT. Depois disto, sofreu alterações até o modelo hoje definido na Constituição Cidadã de 1988.
Mas por que esta necessidade de férias?
Por um lado, uma reivindicação de quem experimenta o trabalho como uma carga que, em determinado momento, precisa de alívio. Um recurso necessário para a própria produtividade. Resultado das constantes revoluções industriais em curso. Uma espécie de compensação travestida de “direito ao descanso e lazer”.
Possivelmente por aí entende-se o fato de duas ou três gerações anteriores, especialmente para quem vivia na roça, não reivindicarem tanta importância para férias. Isto porque o descanso e o lazer eram também constitutivos da vida cotidiana. Tinha-se uma relativa autonomia na definição dos dias e horários de trabalho.
Por outro lado, criou-se o mercado das férias. O descanso e o lazer aram a ser tratados como bens de consumo. E nós, litorâneos, sabemos bem disso. É a base do nosso “ganha pão”.
Trago estes elementos porque facilmente aceitamos e nos comportamos pela força da inércia que a tradição estabelece. Olhamos para as “férias” como algo natural, algo que sempre foi assim. Mas não. Não faz parte da natureza humana gozar de férias. Elas se tornam mais necessárias à medida que o trabalho se impõe como uma carga que oprime e, muitas vezes, deprime. Ou então um simples produto de consumo que gera status.
E aí me pergunto: por que concentrar e apostar todo o descanso em apenas trinta dias (ou menos ainda) condicionados aos meses de dezembro a fevereiro em meio a tantos transtornos como os engarrafamentos? Seria essa a nossa “natureza”?