Depois da notícia dando conta da morte de José Pepe Mujica, uma pessoa diferenciada para nós – amantes de vida, fomos impactados com a notícia da morte de Sebastião Salgado. E quando afirmo impactados é porque a morte provoca um impacto no sentido de retomarmos o significado de vida destas pessoas.
Mujica mundialmente reconhecido pelo seu testemunho de vida acompanhada de uma filosofia e fala simples e direta, contestatória e propositiva.
Sebastião Salgado causou e causa impacto pelas imagens que conseguiu captar em fotos preto e branco. Possivelmente para destacar os contrastes do viver humano. Afirmava que o colorido poderia “distrair o espectador da essência da imagem”. Destacou-se ao fotografar etnias e grupos marginalizados neste nosso Brasil continental, especialmente a classe trabalhadora. E também por imagens captadas entre exilados e refugiados em dezenas de países por onde andou. O que Sebastião conseguiu foi reproduzir a realidade no que ela tem de mais profundo. Não eram apenas imagens, eram emoções e sentimentos materializados. Imagens que iam para muito além de um momento. Figuras que se tornaram verdadeiros textos de interpretação. Poucos conseguiram fazer o que ele fez. E isto é o que lhe permitiu se tornar único e impactante.
Ele mesmo foi impactado pelo seu trabalho. A ponto de sentir-se comovido com a própria humanidade que tão bem retratou. Mesmo com residência em Paris, criou o Instituto Terra num projeto de reflorestamento em fazenda no interior de Minas Gerais. Resgatou uma área que havia sido desgastada pelo desmatamento e acompanhou o renascer de espécies da fauna e flora. Confortou-o perceber que nosso mundo não é feito só de pessoas, e que existe muita vida para além dos humanos.
Somos apenas parte de algo que é muito maior do que nós e das relações que construímos. Para chegar a este entendimento foi preciso observar nossas sociedades e as pessoas no que tem de mais profundo.
Parece simples capturar uma foto. Inclusive temos um recurso sempre à disposição: nossos celulares. Basta um clique. E ainda poderes de editar a própria realidade. A ponto de já não nos sentirmos seguros diante das imagens: seriam espelho da vida como ela é ou de uma montagem como realidade manipulada?
O preto e branco de Sebastião Salgado serão sempre uma provocação para a vida que vai além de nós mesmos.
O doce Sebastião Salgado…
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