Home Especial O que é o maruim, inseto que tem infestado municípios da região?

O que é o maruim, inseto que tem infestado municípios da região?

por Melissa Maciel

O inseto, conhecido também por “mosquito-pólvora”, é na verdade uma espécie de mosca de apenas 2 milímetros, para a qual não há soluções químicas de combate disponíveis.

O município de Dom Pedro de Alcântara, no Litoral Norte gaúcho, tem enfrentado sua maior infestação de maruins. Os insetos têm atrapalhado o dia a dia dos moradores do município, que buscam soluções para combatê-los por meio da troca de conhecimento e do uso de produtos bioativos em teste em Santa Catarina.

Não é apenas Dom Pedro de Alcântara que tem registrado aumento de maruins na região. Os municípios de Mampituba, Morrinhos do Sul, Três Forquilhas e Torres, na região alta da comunidade do Jacaré, têm observado o aumento do inseto nos últimos anos. Mas afinal, o que é o maruim?

CARACTERÍSTICAS

O inseto, também conhecido como “mosquito-pólvora”, é na verdade um tipo de mosca que mede cerca de 2 milímetros. Apesar do seu pequeno tamanho, sua picada é dolorosa, causando coceira, hematomas e, em pessoas alérgicas, pode resultar em feridas. O termo “maruim”, que significa ‘mosca pequena’, refere-se a esse pequeno inseto, também conhecido como mosquito-pólvora devido à sua coloração escura.

O maruim é mais encontrado em locais com matéria orgânica em decomposição, reproduzindo-se em áreas alagadas, como banhados, caules de bananeiras, esterco de gado, suínos e aves, além de locais de cultivo de hortaliças, jardins, entre outros. A umidade é um fator facilitador da proliferação desses insetos, que depositam seus ovos em ambientes úmidos. Além disso, o calor também contribui para sua multiplicação.

As picadas são realizadas pelas fêmeas, que necessitam de substâncias presentes no sangue, como ferro, aminoácidos e proteínas, para o amadurecimento de seus órgãos reprodutivos e larvas, assim, picam os seres humanos para continuar o ciclo de vida.

Suas picadas frequentes também podem transmitir doenças e desencadear reações alérgicas em alguns casos, causadas por proteínas presentes em sua saliva. Grandes infestações podem causar desconforto extremo, até mesmo inibindo a permanência das pessoas no local.

Foto: Ascom PMM | As picadas do maruim podem desencadear reações alérgicas em algumas pessoas

O ciclo de vida dos maruins compreende as fases de ovo, larva (em quatro estágios), pupa e adulto, que podem durar de 3 semanas em climas tropicais a até 12 meses em climas temperados.

COMO COMBATER

Por enquanto, não existem produtos químicos ou bio-inseticidas oficialmente registrados para o combate do maruim. Entre as medidas recomendadas para combater o inseto, profissionais da epidemiologia orientam que, para afastar o maruim, atualmente recomenda-se o uso de óleos à base de citronela, cravo e folhas de neem aplicados no ambiente; a utilização de telas de proteção tipo voal nas portas e janelas das casas e escolas; a eliminação de matéria orgânica nas imediações das propriedades; evitar o acúmulo de matéria orgânica, como madeira apodrecida, cascas de árvores, esterco e lama; cobrir com plástico touceiras de bananeiras e de árvores cortadas que acumulam água, além de manter quintais e terrenos baldios limpos.

DOM PEDRO DE ALCÂNTARA

Em Dom Pedro de Alcântara, foi criado um grupo de trabalho com o objetivo de encontrar soluções para lidar com esse problema. Uma comitiva composta pelo prefeito Alexandre Model Evaldt (Xande), a engenheira agrônoma da Emater/RS-Ascar, Tatiana Vahl Bohrer, e o agente de endemias do Município, Sandro Webber, visitou o município catarinense de São João do Itaperiú no dia 26 de março. O objetivo da visita foi conhecer de perto o agente biológico utilizado no combate à proliferação dos maruins na região do Vale do Itapocú, além de promover um intercâmbio de informações para avaliar a adaptação e implementação dessa abordagem em Dom Pedro de Alcântara.

Foto: Arquivo / PMDPA | Servidores municipais foram a SC buscar formas de combater o inseto

Em entrevista à Rádio Maristela, o prefeito explicou que o controlador biológico, ainda em fase de testes, está sendo distribuído aos agricultores do município catarinense para aplicação tanto em áreas residenciais quanto rurais, com foco especial nos bananais, onde a presença do mosquito é mais intensa.

“Tínhamos conhecimento de que na região de Santa Catarina estavam sendo conduzidas pesquisas e testes com produtos para o controle desses insetos. Decidimos nos dirigir até lá para conhecer de perto, entender as práticas em andamento, trocar informações e estabelecer contato entre as instituições do nosso estado e as deles”, justifica o prefeito Xande.

De acordo com a engenheira agrônoma da Emater/RS-Ascar foram acionados a Secretaria de Agricultura e a Secretaria de Saúde para se envolverem nesse processo também e, durante a visita ao município catarinense receberam uma amostra do produto para testes. “Essa visita representa mais uma entre tantas iniciativas em busca de uma solução, sendo a opção mais próxima que encontramos até agora”, explicou a engenheira agrônoma Tatiana.

O prefeito Alexandre acredita que, embora outros municípios tenham registrado a presença do maruim, Dom Pedro de Alcântara é o que concentra a maior infestação desses insetos. A visita, segundo o prefeito, foi fundamental para buscar soluções que estão em fase de teste em Santa Catarina, uma vez que não existe nenhum tipo de produto disponível até o momento.

MAMPITUBA

O município de Mampituba, segundo a coordenadora da Vigilância Sanitária, Maíra Bonato, tem enfrentado uma infestação generalizada de maruim, tanto no interior quanto na zona urbana, que tem se intensificado nos últimos dois anos. A vigilância sanitária tem recebido numerosas queixas sobre o problema e tem buscado informações sobre controle junto a outros órgãos, além de acompanhar os esforços de controle de maruim em outros municípios, como Dom Pedro de Alcântara e Morrinhos do Sul.

“Esperamos implementar essas estratégias em nosso município para proteger os agricultores e a população em geral. As escolas municipais tem adquirido repelentes para os alunos e o uso de ar-condicionado tem repelido os insetos dentro das salas de aulas. Além disso, até o momento, estamos realizando levantamento de casos, coletando amostras para identificar a espécie predominante e elaborando relatórios para chamar a atenção das autoridades estaduais. Também buscamos apoio da 18ª Coordenadoria Regional de Saúde para encontrar soluções para este problema urgente.

LUIZ ALVES/SC

O município de Santa Catarina, Luiz Alves, localizado a 25km do município visitado pela comitiva dom-pedrense, São João de Itaperiú, decretou situação de emergência no dia 27 de março deste ano, devido à alta infestação por maruim, não somente na área rural, mas também na urbana.

De acordo com o prefeito de Luiz Alves, Marcos Pedro Veber, em 2019 foi iniciado o Consórcio Intermunicipal de Gestão Pública do Vale do Itapocu (Cigamvali), junto aos municípios Jaraguá, Guaramirim, Corupá, Schroeder, Massaranduba, Barra Velha e São João do Itaperiú, para poder investir em uma pesquisa que buscava encontrar um controle biológico para o maruim.

Coordenado pelo pesquisador Luiz Américo, uma das maiores autoridades no assunto, o trabalho científico envolveu 12 anos de estudo antes da aplicação dos testes em campo.

A Prefeitura Municipal explica que devido à dificuldade enfrentada para aplicação do produto, ele não tem tido a eficácia esperada. Neste ano, o maruim saiu da área rural e chegou na urbana, atrapalhando a qualidade de vida dos moradores, o que levou a cidade a decretar situação de emergência.

Foto: Ascom PMLA | Município de Luiz Alves enfrenta dificuldade para aplicação de bio-ativo

Atualmente, São João de Itaperiú optou por não utilizar o produto desenvolvido em parceria com Luiz Alves. Em vez disso, está trabalhando no desenvolvimento de outro tipo de bio-ativo para combater o maruim. Este novo produto está atualmente em fase de testes e foi disponibilizado à comitiva de Dom Pedro de Alcântara para ser testado em algumas propriedades, a fim de observar seus efeitos.

POSIÇÃO DA 18º CRS

O coordenador da 18ª Coordenadoria Regional de Saúde (CRS), com abrangência em 23 municípios do Litoral Norte gaúcho, Robson Bobsin Brehm, em resposta a esta reportagem, explica que a infestação de maruins, ou mosquito-pólvora, ocorre especialmente na região Belas Praias, com exceção dos municípios de orla marítima. Na região Bons Ventos, apenas Santo Antônio da Patrulha identificou infestação. Além disso, o coordenador afirma que observou um aumento excepcional desses insetos neste ano de 2024, muito diferente dos verões ados. Confira a Nota:

A 18ª CRS buscou auxílio de técnicos e pesquisadores do Centro Estadual de Vigilância em Saúde para iniciar a coleta de exemplares e caracterizar a espécie existente aqui, para determinar se é a mesma encontrada em outros estados brasileiros como Santa Catarina, Rio de Janeiro e Espírito Santo.

Inicialmente, foram colocadas armadilhas de captura no município de Três Forquilhas. Os insetos coletados serão remetidos ao Instituto Evandro Chagas. Também é importante saber se a espécie de maruim que está se desenvolvendo aqui é capaz de transmitir algum agente patogênico. Na região amazônica, é capaz de transmitir a Febre Oropouche, que apresenta sintomas de febre por vários dias, náuseas, vômitos, e dor nas articulações, muito semelhante à Dengue.

Os pesquisadores também entrarão em contato com a EPAGRI e a UFSC para conhecer as pesquisas dessas instituições em Santa Catarina. Os técnicos entrevistaram moradoras da localidade do Morro do Chapéu, em Três Forquilhas, e observaram lesões na pele dos moradores. É importante que as unidades de saúde registrem as ocorrências de picadas e reações alérgicas para que seja possível fazer o mapeamento das regiões geográficas mais afetadas e da época do ano de maior incidência.

Também cabe ressaltar a colaboração da AMLINORTE, que prontamente organizou uma reunião e encaminhamentos para minimizar esse drama que os municípios têm vivido.

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