Morte e cemitérios são temas que não fazemos muita questão de abordar. Como destaca uma já velha amiga: “o que não é visto não é lembrado”. Melhor não tornar comum um espaço que não fazemos questão de ocupar. Não tão cedo. A possibilidade de adiar sempre é a melhor alternativa. No entanto, mesmo contrariados, é um lugar frequentado especialmente por ocasião desta data simbólica de recordação dos mortos nos primeiros dias de novembro. É até feriado.
Em princípio, trata-se de um espaço que nos iguala a todos. Embora a constatação de que a morte não chega igual a cada um dos mortais, nivela a todos na condição de que é imprescindível. Podemos adiá-la. Podemos apressá-la. Mas é apenas uma questão de tempo. Necessariamente vai acontecer. Não conheço ninguém que se afirme imortal. Aprendemos desde cedo a conviver com esta realidade.
Ainda assim, resistimos em reconhecer esta situação de igualdade. Prova disso são os cemitérios. Basta estender um olhar para as sepulturas construídas. O espaço em que depositamos nossos “entes queridos” vem se constituindo numa teimosa manifestação de que não somos todos iguais, nem mesmo na morte. A construção do que se convencionou chamar de “capelinha” ou urna funerária é uma expressão de nossa desigualdade. Insistimos em acomodar a morte de acordo com nossos princípios de vida. Até escolhemos modelos convencionais, mas dentro de tal modelo, precisamos construir diferenciais. A qualidade e o custo do material investido é uma expressão de destaque e poder. Um fator de distinção. Aos comuns, qualquer vala ou gaveta é suficiente. Repete-se também esta distinção na diversidade de planos para as pessoas e famílias que optam pela cremação. Entre o mais econômico e o mais completo há um abismo.
Não é um privilégio de nossas gerações. Que o digam os egípcios que construíam suas pirâmides exatamente para distinguirem-se a partir da morte.
A morte, ou amento como preferem alguns, até mesmo pelo seu caráter de imprescindibilidade, é um espaço privilegiado de nossas projeções sociais. E, no entanto, são meras representações de como lemos a realidade.
O melhor é não saber objetivamente como será o outro lado. No fundo, tememos pelas frustrações.