O aumento de focos do mosquito Aedes aegypti e dos casos confirmados tem preocupado os profissionais da saúde e reforça a necessidade de a população aderir à causa.
Quando nos deparamos com a larva do mosquito, mesmo após tomarmos precauções, não tínhamos plena noção do perigo iminente”, relata Carla Terezinha da Silva Engler, proprietária da Pousada do Alemão, em conjunto com seu esposo, João Vianei Engler. A pousada está localizada no bairro Getúlio Vargas, em Torres. Ao se confrontar com o foco do mosquito em seu empreendimento, Carla sentiu a urgência de assumir responsabilidades no combate ao Aedes aegypti, transmissor de doenças como dengue, chikungunya, zika e febre amarela. Atualmente, o bairro Getúlio Vargas registra o maior índice de focos do Aedes aegypti e de casos confirmados de dengue no município.
Os agentes de endemias da Vigilância Ambiental em Saúde da Secretaria Municipal de Saúde de Torres estão intensificando as ações de combate ao mosquito. Carla relata que a larva encontrada no pátio da Pousada em 2019 foi descoberta durante uma das visitas de rotina da agente de endemias Isabel Zeferino Pereira para inspeção e orientação.
“Durante a vistoria, a agente Isabel notou um balde contendo água da chuva para reutilização. Para nós era água limpa, porém, foi constatado que estava com larva de mosquito, que foi coletada para análise. Após alguns dias, a Agente retornou e nos informou que se tratava do mosquito da dengue. A partir desse momento, amos a dedicar mais atenção ao problema e, com a orientação da Isabel, fizemos as devidas adequações na Pousada”, explica Carla.

Atualmente, a Pousada do Alemão é considerada pelos agentes de endemias como um exemplo positivo de cooperação e adaptação. Após receberem orientações dos especialistas, Carla e João incorporaram essas práticas como parte integrante da gestão do negócio.
“A pousada opera apenas durante o verão. Após o término da temporada, imediatamente iniciamos o processo de clorificação e vedação dos ralos, pias, e tampamos os vasos sanitários. Também esvaziamos os reservatórios atrás das geladeiras e prestamos atenção especial às calhas e folhagens”, detalha Carla. Essa nova rotina é seguida rigorosamente, especialmente no pátio, e é o segredo para manter a Pousada livre de novos focos de mosquito.
Além de cumprir sua parte, eles monitoram atentamente a vizinhança e percebem que outros também estão se preocupando em manter seus espaços, seja comercial ou residencial, livres do mosquito. No entanto, acreditam que o poder executivo deveria adotar medidas mais firmes contra casos recorrentes de focos do mosquito.
“É fundamental o trabalho de conscientização e orientação. Assim como aconteceu conosco, aprendemos a combater o mosquito em nosso estabelecimento, adaptando as práticas à natureza específica da pousada e incorporando-as à gestão do nosso negócio. E estamos obtendo sucesso. No entanto, quando são identificados focos do mosquito em um mesmo local mais de duas vezes, acredito que medidas mais severas, como multas, devem ser aplicadas”, opina Carla.
O COMBATE
Em Torres, graças ao trabalho de vistorias preventivas e orientações à população para eliminar criadouros de mosquitos, os locais mais frequentemente encontrados com focos no município são, em ordem de maior incidência: baldes, bromélias, ralos, vasos de plantas, vasos sanitários sem uso, cascas de palmeiras, pratinhos de plantas, tonéis com água da chuva, regadores, entre outros.
A agente de endemias Isabel, que atua nesse trabalho preventivo contra o mosquito da dengue desde 2015, destaca que é notável o fato de que, ao contrário do que muitos pensam, não se encontram focos do mosquito somente em residências mais humildes, com pessoas menos informadas. Pelo contrário, hoje encontra-se focos do Aedes aegypti em qualquer tipo de moradia, em qualquer estabelecimento comercial, em qualquer local, na periferia e no centro da cidade.
Foto_Agente
Isabel também afirma que a população não tem sido resistente no combate ao mosquito. Na verdade, durante as inspeções, os moradores seguem pontualmente as orientações recebidas e fazem o necessário para eliminar criadouros. No entanto, Isabel acredita que a população ainda está “distraída!” com esse assunto, e acabam por descuidar posteriormente, permitindo o surgimento de novos criadouros em suas residências.
“Nos nove anos que trabalho no combate ao mosquito Aedes, tenho percebido uma boa conscientização das pessoas sobre o problema. Muitas vezes, ao retornar a casas que já visitei, observo que a cada visita os moradores estão mais atentos. Mas, infelizmente, ainda não é o suficiente”, acredita a agente.
No que diz respeito ao aumento de casos confirmados da doença, Isabel atribui isso à notável capacidade de reprodução do mosquito durante seu ciclo de vida e ao tempo prolongado que os ovos podem permanecer viáveis, aguardando apenas água parada para eclodir.
“Acredito que os casos têm aumentado porque a quantidade de mosquitos tem aumentado. Quando comecei a trabalhar nessa área, há nove anos, não havia tantos focos de mosquitos como hoje. Os ovos do mosquito em recipientes secos podem resistir por mais de 450 dias, aguardando apenas umidade para eclodir e se transformar em mosquito”, explica a agente.
Além disso, Isabel explica que uma fêmea do mosquito pode sobreviver de 30 a 45 dias e pode colocar até 500 ovos em seu tempo de vida.
“A conscientização e mobilização da população são as principais armas no combate ao mosquito. Mesmo que as pessoas cuidem, ainda há potenciais criadouros, como depósitos de água, cantos nos pátios, pratinhos de plantas, pneus esquecidos. Enquanto a população não se conscientizar e não mantiver uma vigilância rigorosa, nossa luta será em vão e não será suficiente”, desabafa Isabel.
CHECKUP EM 10MIN
A população deve adotar a rotina de realizar uma vistoria semanal em suas residências e/ou estabelecimentos comerciais. De acordo com especialistas, é possível realizar uma verificação rápida para eliminar possíveis criadouros de mosquitos em apenas 10 minutos do seu dia. Confira:

1. Retire galhos e folhas das calhas;
2. Guarde garrafas com a bocas viradas para baixo;
3. Faça a manutenção de piscinas;
4. Guarde pneus em locais cobertos;
5. Mantenha lajes sempre limpas;
6. Tampe tonéis e caixas d’água;
7. Preencha pratinhos de plantas com areia e lave-os uma vez por semana;
8. Mantenha os ralos sempre limpos e com telas de proteção;
9. Estique bem as lonas de proteção para evitar acúmulo de água;
10. Feche bem os sacos de lixo e coloque-os longe do alcance de animais;
11. Limpe bandejas de geladeiras e ares-condicionados;
12. Verifique se há acúmulo de água em outros objetos.
SINTOMAS E TRATAMENTO
Os profissionais de saúde enfatizam a importância de a população estar atenta aos sintomas mais comuns da dengue, que incluem febre alta, dores intensas no corpo, dor atrás dos olhos, surgimento de manchas vermelhas na pele, náuseas, diarreia e vômitos.
Em caso de apresentar esses sintomas, é fundamental não se automedicar. Buscar orientação médica imediatamente pode fazer toda a diferença no diagnóstico precoce e no tratamento eficaz da doença. Além disso, é fundamental lembrar que a dengue pode evoluir rapidamente para formas mais graves da doença, como a dengue hemorrágica, que pode ser fatal. Portanto, qualquer suspeita de dengue deve ser levada a sério e prontamente avaliada por um profissional de saúde.
MAPA DA DENGUE
Nesta semana, o Rio Grande do Sul alcançou um marco preocupante: segundo dados do de Casos de Dengue RS da Secretaria Estadual de Saúde (SES), o estado registrou um total de 78 mortes relacionadas à dengue até ontem, quinta-feira (18). Além disso, foram confirmados mais de 68 mil casos da doença, dos quais mais de 55 mil foram contraídos dentro do próprio RS. Outros 25 mil casos estão em fase de investigação.
Dos 497 municípios gaúchos, apenas 31 ainda não registraram infestação pelo mosquito Aedes aegypti. É alarmante notar que, em menos de quatro meses, o Rio Grande do Sul já superou o número total de mortes registradas em cada um dos últimos 10 anos.

TORRES
No Litoral Norte gaúcho, segundo dados da Vigilância em Saúde, emitidos no dia 12 de abril, o município de Torres contabiliza 165 casos confirmados, sendo 125 casos autóctones, ou seja, aqueles contraídos dentro do município. Além disso, oito pacientes precisaram de internação hospitalar. Além desses, 07 casos estão em investigação se são autóctones ou importados.
Confira no mapa de Torres os bairros e os números de casos confirmados, até o momento:
