
A praia mais procurada no Litoral Gaúcho completa mais um ano encantando a todos.
“Nos caminhos desta vida que a gente percorre, sem saber se anda, se espera ou se morre, sem saber se canta, partir ou ficar. Peregrino da saudade, da canção ternura, meus olhos apontam o fim da procura, num caminho livre à beira do mar”, assim o cantor gaúcho Leonardo iniciou a canção Batismo de Sal, que homenageou a cidade de Torres, que na próxima quarta-feira (21), completa 147 anos.
Mais adiante em seus versos, Leonardo diz que foi na Guarita, “Onde a natureza se mais bonita e o mar de ciúme se tornou canção”, destacando as belezas naturais e geográficas que a cidade oferece para quem vive ou veraneia na “mais bela praia” do Rio Grande do Sul, onde paredões rochosos à beira-mar se sobressaem, e por ter à sua frente a única ilha marítima do estado, a Ilha dos Lobos. Hoje, Torres é reconhecida, também, como a “Capital Nacional do Balonismo”.
No ado, Torres foi conhecida apenas pelas suas belezas naturais. Depois, por ser destino de muitos durante o período de veraneio, sendo a casa de muitos de dezembro a março. Em seguida, por ser a praia mais próxima de Santa Catarina. Ao longo dos anos, Torres cresceu, evoluiu e se tornou não apenas destino de muitos, mas a casa de tantas pessoas que realizam o sonho de morar na praia. Hoje, a cidade que tem cerca de 50 mil habitantes, recebe cerca de 400 mil pessoas em alta temporada, mas também recebe muitas pessoas para o seu Festival Internacional de Balonismo, o maior da América Latina.
Torres não é um balneário, Torres é uma cidade com praia. Quem mora aqui se orgulha em dizer que mora no paraíso.
DO NOME À EMANCIPAÇÃO POLÍTICA
Essa é uma das principais perguntas sobre a cidade, como surgiu e o porque deste nome? O historiador, jornalista e morador de Torres, Nelson Adams explica no texto abaixo.
A primeira menção cartográfica ao nome “as Torres” foi registrada pelo padre jesuíta português Diogo Soares, no século XVIII. Enviado ao Brasil Colônia em 1729 por ordem do rei João V, Soares veio com a missão de realizar levantamentos topográficos e mapear territórios estratégicos após a descoberta de ouro nos sertões da Bahia. Com base em relatos de viajantes e tropeiros, ele incluiu o nome “as Torres” em seus mapas, consolidando esse topônimo na cartografia da época.
Em 1739, outro jesuíta, o italiano Domenico Comi, veio ao Brasil para colaborar com Soares. Ambos ficaram conhecidos como os “padres matemáticos”. No entanto, Comi faleceu antes da publicação da Carta Geográfica do Novo Atlas da América Portuguesa, o que reforça a associação do nome “as Torres” ao trabalho de Diogo Soares.
Registros ainda mais antigos apontam para a presença do nome em outras línguas. Em 1527, o navegador veneziano Sebastião Caboto, a serviço da coroa espanhola, utilizou a expressão “El Farallon” para descrever a região em seu Mapa Mundi de 1544, referindo-se possivelmente à foz do rio Mampituba. Em 1546, o cartógrafo italiano Giacomo Gastaldi usou a denominação “Il Faraiolo” para a mesma área.
Ao longo do século XVIII, tropeiros e viajantes também aram a se referir à região como “as Torres” ou “das Torres”. Em 1715, tropeiros liderados por Francisco de Brito Peixoto faziam paradas no local durante viagens ao sul em busca de gado. Cristóvão Pereira de Abreu, em 1732, também registrou o nome em seus relatos.
A importância estratégica da região se consolidou em 1776 com a construção da fortificação São Diogo das Torres, idealizada pelo marechal Diogo Funck para conter possíveis avanços espanhóis. Já em 1773, José Custódio de Sá e Faria, em seu Plano para Defesa do Continente, mencionava a Guarda e Registro transferida de Tramandaí para Torres. O nome também aparece em documentos de João Roscio (1774/75) e Antônio Inácio de Rodrigues Córdoba (1780).
No campo político, Torres desempenhou papel relevante na emancipação de Nossa Senhora da Conceição do Arroio (atual Osório), em 1857, de Santo Antônio da Patrulha. Dois anos depois, em 1859, tentou se separar de Conceição do Arroio, sem sucesso. A negativa veio acompanhada de justificativas como a perda de território, população e arrecadação, além da alegação de que não havia, em Torres, cidadãos “aptos” a exercer funções públicas, como a de subdelegado.
A primeira emancipação foi conquistada em 21 de maio de 1878, por meio da Lei Provincial nº 1.152, assinada pelo então presidente da Província, Américo de Moura Andrade. No entanto, a autonomia durou pouco: em 1887, o município foi extinto e reincorporado a Conceição do Arroio. Na época, o Brasil era governado pelo Barão de Cotegipe, do Partido Conservador. Apenas com a Proclamação da República, em 23 de maio de 1890, Torres voltou a ter status de município.
Diversas lideranças participaram dessas tentativas e processos de emancipação. Entre os nomes destacados está o de Manoel Fortunato de Souza, embora ele não tenha atuado sozinho. Na tentativa de 1859, estiveram envolvidos também Hipólito Antônio Rolim, José de Lemos Terra, Ricardo e Caetano Ferreira Porto, Tomaz Teixeira da Rosa, Tomaz Francisco Ferreira, Antônio Krás Borges, Fortunato Martins de Souza e religiosos como os padres Manuel Carlos Ayres de Carvalho Blaz Puerta Rodrigues, Francisco Rosito Morano e José Antônio Fanzi.
A Irmandade do Santíssimo Sacramento de São Domingos das Torres também teve participação, com membros como Caetano Carlos Grundler, Antônio Francisco de Emerin, José Teodoro Nunes e Oliveira, e Antônio Ferreira Porto. São ascendentes de famílias ainda presentes na cidade.
Entre 1878 e 1892, outras lideranças civis, militares e religiosas atuaram na consolidação da emancipação, como Álvaro Afonso Capaverde, Henrique André Muller, Francisco Antônio Rolim, Jacó Gayer Ourives, Quintilhano Raupp, Luiz Bauer, Teodósio Pacheco de Freitas, José Maria dos Santos, João Amaro Pereira, Manoel José de Matos Pereira, Pedro Pacheco dos Santos, Timóteo da Silva Bueno e José Jacó Tietboehl. Muitos foram posteriormente homenageados com nomes de ruas e logradouros públicos.
A tentativa frustrada de emancipação em 1859 evidencia a relevância econômica de Torres para Conceição do Arroio. De acordo com a “Estatística Geográfica, Natural e Civil da Freguesia de São Domingos das Torres”, elaborada pela Câmara de Conceição do Arroio, a região era rica em recursos naturais e produção agrícola. Havia 453 estabelecimentos agrícolas, com destaque para o cultivo de cana-de-açúcar, mandioca, milho, feijão, arroz, trigo, café e fumo. A produção incluía 451 pipas de aguardente, 24 toneladas de açúcar, 50 mil unidades de rapadura e 4.105 animais, além de 21 engenhos de açúcar e 100 de mandioca.
O setor de serviços também era presente, com oficinas de artesanato, sapatarias, carpintarias, ourivesarias e ferrarias, além de atividades comerciais e de transporte. Não havia atividade turística à época. O turismo, mais especificamente o balneário, começou a se desenvolver apenas a partir de 1915, com a atuação de José Antônio Picoral.
A história da emancipação de Torres é marcada por uma mobilização silenciosa, pautada na força econômica e no desejo de autonomia política — e não em conflitos ou disputas territoriais. Um capítulo da história que ainda merece mais pesquisas e reconhecimento dos muitos nomes que contribuíram para a construção da identidade do município.
EVOLUÇÃO

A construção da Igreja de São Domingos no início do século XIX atraiu para seu entorno muitos dos residentes dispersos na região, estruturando-se desta forma um povoado. Conforme o portal oficial do município, a Igreja Matriz de São Domingos, que também é conhecida como Igreja Matriz de São Domingos das Torres, em referência a São Domingos, invocado quando da criação da capela, e às formações geológicas junto ao mar (falésias) denominadas de “Torres” em documentos da istração colonial e imperial. Foi construída a partir de 1819 e inaugurada em 25 de outubro de 1824. Construída na Torre Norte (Morro do Farol), a igreja é um dos marcos do desenvolvimento da povoação.
A partir de 1950 o progresso chegou ainda mais à região, com a melhoria das estradas e a facilidade de o. As décadas seguintes só viram a confirmação de Torres como cidade turística de economia sazonal, ao mesmo tempo em que seus distritos iniciavam a se tornar mais dinâmicos, organizando-se em núcleos urbanos mais ou menos autossuficientes. Essa tendência acabou por levar diversos deles à emancipação. Em 1988 separaram-se Três Cachoeiras e Arroio do Sal; em 1992, Três Forquilhas e Morrinhos do Sul.
FESTIVAL DE BALONISMO
Em 1989 os balões começaram a ganhar destaque na cidade, com um evento exclusivo para a categoria, a partir de uma ideia do Sindicato dos Hoteleiros da cidade em parceria com outros empresários locais. O objetivo deles era trazer um evento novo, que movimentasse a economia local. Na época, o único festival que acontecia na região era a Febanana, evento agrícola que teve duas edições em Torres, mas que não teve continuidade. O primeiro evento de balonismo foi um sucesso, apesar do mau tempo. O 1º Festival Sul brasileiro de Balonismo, ocorreu entre os dias 7 e 9 de outubro daquele ano e contou com a participação de 10 balões. A segunda foi o nome do festival, que acabou ficando mais objetivo e se tornou apenas “Festival de Balonismo”.

DESTINO
Hoje a cidade é o destino mais procurado durante a temporada de verão, recebendo milhares de pessoas durante o período. Conforme o último senso, divulgado em 2022, o município tem 41.751 habitantes.
E como diz o hino da cidade, “Torres. Tu és, cidade – menina, A mais formosa praia sulina…. Tu és vida, luz e calor, Tu és um poema de amor. Entre as praias gaúchas, Tu és a mais bela; És uma linda aquarela. De cor e de poesia… És magistral sinfonia. O teu mar de verdes águas, Batendo contra os rochedos, Vai cavando entre penedos, Tuas furnas deslumbrantes… O Mampituba sereno, A Torre Sul e a Guarita, O Farol e a Torre Norte, A Igrejinha tão bonita…”
Legenda: Rua Carlos Flores, hoje José Antônio Picoral nos anos de 1940
FOTO 3: ARQUIVO RÁDIO MARISTELA
Legenda: Em 2025, Festival Internacional de Balonismo chegou a sua 35ª edição, com recorde de público e de balões