Um feriado no final de abril e início de maio é determinante para escolher a data do Festival de Balonismo de Torres: Tiradentes ou Dia do Trabalho. O que se posicionar mais propício para um feriadão leva vantagem. Quanto ao motivo do feriado, nada a ver. Não interessa. O melhor mesmo é que não interfira.
Como minha intenção é provocar, venho em defesa da razão do feriado: dia do trabalho. Ou seria do trabalhador?
“É considerado feriado nacional o dia 1º de maio, consagrado à confraternidade universal das classes operárias e à comemoração dos mártires do trabalho; revogadas as disposições em contrário.”
Estes foram os termos do decreto 4.859 de setembro de 1924 instituindo o 1º de maio como dia do trabalhador. Depois, no período de Getúlio Vargas, para descaracterizar as lutas sociais, instituiu-se uma data de anúncio de leis trabalhistas fortalecendo a ideia do dia do trabalho. Mais recentemente, no período da ditadura militar, uma data comemorativa. Um dia em que as empresas homenageavam seus trabalhadores com almoços e festas com direito a shows e brindes. No período posterior, já no movimento de abertura política e em defesa da democracia, uma data de manifestações e reivindicações. Um dia de demarcação política. E agora, feriadão!
Mas o que temos mesmo para comemorar? O que temos para resgatar? Os dias de hoje já não são os mesmos de 1886 quando em Chicago (EUA) um grupo expressivo de trabalhadores exigia a redução das horas diárias de trabalho. Também não vivemos a mesma realidade de 1917 quando aconteceu a primeira grande greve de trabalhadores do Brasil. E nem o fim dos anos de 1970 em que fervilharam as greves de metalúrgicos no ABC paulista. Estamos no século XXI e as condições de trabalho são outras. A reivindicação de muitos é agora o direito de trabalhar com “liberdade” e em casa. Mesmo que isto represente 10, 12 ou até 16 horas por dia. Somos uma sociedade desenvolvida. Ou seríamos uma “sociedade do cansaço” como aponta o filósofo Byung-Chul Han?
De qualquer forma, ainda perseguidos e assombrados pelo crescente número de denúncias em que trabalhadores e trabalhadoras são encontrados em situação análoga à escravidão. Que os balões nos permitam a visão mais ampla de uma realidade que ainda se esconde.