Neste que é o último mês do ano, todo dia observamos algum grupo em atividade de confraternização. Não com a mesma incidência, repetem-se também as dinâmicas de amigo secreto ou amigo oculto como preferem alguns. Uma prática que objetiva integrar pessoas. Mas o principal é a partilha de um sentimento que expressa a alegria de mais um ano que se encerra e, com ele, a conclusão de um ciclo de preocupações e estresses. Não como algo já superado ou eliminado, mas como um degrau que se avança. Bem ou mal, merece comemoração o fato de que uma etapa se cumpre.
Novos ciclos geram expectativas e possibilidades, inclusive a possibilidade de continuar tudo igual. Momentos que merecem ser comemorados.
Voltando aos festejos, a comensalidade é marcante. Encontrar-se numa pizzaria, restaurante ou bar sempre é uma boa provocação. Impensável festejar sem comer. Melhor ainda se acompanhado por uma boa bebida. Faz parte do ritual.
Não tenho visto grupos de confraternização na praça, numa roda de chimarrão. Talvez porque isto esteja mais próximo do cotidiano.
A troca de presentes, embora comum, acontece de forma peculiar. Remete ao espírito natalino. Mais recentemente, nos últimos anos ou décadas, foi necessário estabelecer novos critérios ou referências nas trocas. Estipular um valor máximo e um mínimo ou a ser regra. Ou até mesmo estipular um presente comum a todos. Algo do tipo “chinelo havaiana”. E, detalhando ainda mais, divulga-se uma lista com indicações de número, cor e modelo. Tudo preparado para a pessoa abrir o pacote e afirmar em alto e bom tom: “bem do jeito que eu queria”.
Lembro de outros tempos em que uma pessoa presenteava seu amigo com um belo par de sandálias e recebia, sem graça, um jogo de sabonetes. Ou uma barra de chocolate. Havia um grau de ansiedade em conhecer os gostos de quem não era tão próximo. Mas a surpresa era um ingrediente necessário. Não muito digesto para os dias atuais.
Fico a pensar se estas mudanças não seriam também o reflexo da dificuldade de lidar com diferenças ou até sinais que manifestam uma carência de empatia, mesmo quando “entre amigos”.
Escorre pelos nossos entendimentos uma vaga ideia de igualdade que nos tira o senso de equidade. Tudo para não comprometer o espírito de fraternidade essencial neste tempo.